Semplicemente
Às vezes eu acordo inspirada, às vezes acho que sou louca, ou sensível demais... Às vezes acho que vivo no mundo da lua, ou que tenho a imaginação fértil demais...
Hoje pela manhã enquanto eu lavava a garagem e ouvia uma música do meu celular com fones no ouvido me veio uma imagem na cabeça... É engraçado isso, estava ouvindo uma bela melodia e do nada Ban! Uma imagem aparece em minha mente... Então a partir de uma simples imagem em minha mente eu acabei criando todo um enredo, acompanhando a bela melodia da canção que eu ouvia, a partir do enredo... Bem... rsrs... Acabei criando uma história... Acho que está mais para um conto na verdade... Enfim... Gostaria de partilhá-la com vocês...
OBS: Estou colocando ao final do texto o link com a música para quem quiser ouvir e conhecer.
Simplecemente – Zero Absoluto
A melodia começa... Suave como o vento... O tipo de melodia que instiga o pensamento... Que trás recordações...
Ele
Uma grande praça italiana, com o chão todo revestido de pedras que mais parecem tijolinhos de estradas de contos de fadas, no centro da praça há um grande chafariz em forma de anjo, o pequeno ser celeste toca uma pequena arpa com um pé no chão e o outro no ar, ele faz um biquinho que é de onde sai a água da bela fonte. Um rapaz está sentado em uma cadeira de um café próximo ao chafariz... Ele possui um semblante triste e escreve algo em uma folha de papel, seu cotovelo esquerdo está apoiado na mesa e sua mão sustenta seu rosto cansado, enquanto a mão direita escreve no papel.
A música ganha letra...
O rapaz amassa o papel nas mãos... Não consegue entender, não consegue aceitar que ela tenha partido... E então as memórias o invadem... O sorriso dela, os olhos dela, o cabelo dela... E ele se lembra de uma conversa que teve com seu pai quando ainda era adolescente:
Ele estava obcecado por uma garota queria e precisava tê-la a qualquer custo e seu pai lhe disse que era o desafio de conquista-la que o tornava obcecado por ela. Ele diz que a ama, que ela é a mulher da vida dele, que não há ninguém como ela, e que é por isso que ele está obcecado. Seu pai sorri, aquele sorriso de quem é experiente e já passou por isso, o sorriso de quem sabe melhor que você mesmo o que está acontecendo, ele diz que muitas outras garotas passarão por sua vida, que ele ainda teria muitas paixões, mas que amor... Amor de verdade talvez ele só encontrasse uma vez, e quando o achasse ele saberia... Seria uma garota pela qual ele faria qualquer coisa, uma garota pela qual ele morreria se fosse preciso...
E ali estava ele naquela praça, naquele café, relembrando o que seu pai lhe dissera... E naquele momento ele soube... Ele soube que era ela... Ela que partira naquela mesma manhã sem nem ao menos se despedir... Era ela quem ele amava... Era por ela que ele morreria... Era por ela que ele faria qualquer coisa... Aquela pequenina menina, do sorriso fácil... Gentil, educada, meio maluquinha às vezes, mas sempre divertida...
Muito emotiva e sexy nos momentos certos... Bem... Na verdade nem sempre nos momentos certos... Às vezes ela era sexy sem perceber, ele adorava observá-la... O jeito com que se movimentava... O movimento de seu delicado quadril quando dançava... Aquilo o deixava maluco... E isso lhe trouxe outra recordação:
Era uma linda noite estrelada, com uma bela lua no céu, eles resolveram jantar fora. Ele escolheu um pequeno restaurante muito aconchegante na bela citá. Estavam sentados a mesa, ele pediu um vinho, sabia que ela era fraca para bebida, mas uns dois dedinhos de vinho tinto não lhe fariam mal, e ela gostava. A observou cheirar e provar leve e delicadamente o vinho, ela era tão linda... Parecia uma boneca prestes a quebrar... Ela sorria para ele ao tomar um gole mais longo do vinho.
Uma música lenta começou a tocar no diminuto aposento e ele estendeu a mão para ela. Como sempre, ela pegou a sua mão com um sorriso divertido no rosto e ele a puxou para si... Encaixando seus corpos. A envolveu totalmente com seus braços, sua fina e macia cintura, ela se encaixava perfeitamente nele, pequena e delicada ela encostou seu rosto em seu peito, bem próximo a seu ombro, e ele sem conseguir resistir aproximou o rosto de seu pescoço e inspirou seu inebriante perfume.
A sensação de estar ali com ela em seus braços, bailando a doce melodia, era algo indescritível. Ali ele se dava conta de que queria tê-la sempre em seus braços, que queria protege-la de tudo que a pudesse fazer sofrer, de tudo que pudesse tirar aquele doce sorriso de seus suaves lábios.
Soltou um longo suspiro ao lembrar-se de tudo aquilo... Por que ela tinha que ir? Por que ele a deixou ir? E então tomado por uma decisão forte, uma solução que esteve ali o tempo todo e ele não tinha se dado conta antes... Ele se levanta. Decidido. Corre pelas ruelas. Toma um taxi e indica uma direção.
Ela
Paisagens e mais paisagens passam pela janela do trem que segue seu caminho... Um caminho para longe dele... Daquele que roubara seu coração e o guardou com ele. Ela não se importava em deixar seu coração com ele... Não com ele... Mas por que doía tanto, então?
Seu curso havia terminado e agora era a hora de voltar pra casa. Voltar para o seu lar, para seus pais, seus amigos, voltar para todos que tinha deixado. Sentia tantas saudades de todos... Mas porque isso não bastava? Por que se sentia vazia? Incompleta?
Um rosto surge em sua mente, não um rosto qualquer... Mas sim, o rosto DELE. Dele que sempre sabia o que fazer para que ela se sentisse bem. Dele que sempre estava presente quando ela mais precisava. Dele que sabia a surpreender como nenhum outro jamais soube. Recordações iam e vinham em sua mente:
Um pôr do sol... Lindo e majestoso... Os dois em pé naquela ponte, ele a abraçava por trás bem apertado, cheirando seu cabelo. Ela sentia o coração inflado de tanta felicidade, se sentia segura naquele abraço.
Um telefonema... Estava na casa dele quando soube da notícia de que seu pai fora internado com um ataque cardíaco... Ela só não desabou por que ele a segurava, com aquela expressão preocupada, querendo saber o que tinha acontecido... E então um abraço forte seguido de um “Tudo vai ficar bem”, e ela acreditou nele.
Se era tão certo voltar pra casa, por que sentia que era tão errado? Preferiu sair de casa pela manhã, não queria despedidas, sabia que seria mais difícil assim. De qualquer forma já tinham se despedido durante a noite e ele tinha entendido.
Olhou mais uma vez pela janela e soltou um longo suspiro... Por que doía tanto? Passou as pontas dos dedos quentes na janela fria e sorriu... Era o melhor a fazer... Não! Era o que devia fazer. Pegou o celular e digitou uma mensagem, soltando na próxima parada de trem. Atravessou a estação com longas passadas e tomou outro trem.
Ele
Soltou do taxi e entrou na estação de trem, indo em direção à bilheteria. Comprou seu bilhete e esperou de forma ansiosa sentado na cadeira o momento de entrar no vagão. Estava feliz com sua decisão, não ia deixa-la partir assim... Por ela, ele iria até o fim do mundo se fosse preciso.
Olhava a todo momento de modo nervoso para o relógio, finalmente o apito soou e ele levantou-se as pressas... Não conseguia ficar sentado e resolveu ficar em pé, próximo da porta de frente para a janela oposta.
No instante em que o motor do trem roncava e o veículo se preparava para entrar em movimento, outro trem chegava à estação ao lado. Ele olhou pela janela quando o trem começava a se locomover e não acreditou no que viu. Correu para o lado oposto do vagão, espalmando as mãos na janela e olhando de olhos arregalados. Não podia ser... Ele olhava atentamente para uma garota baixa de longos cabelos castanhos que saia pela porta do trem que acabara de parar na estação ao lado da que ele estava. Mas ele estava partindo para encontrá-la! Ela teria voltado?
Ele não podia acreditar no que estava acontecendo... Olhava embasbacado pela janela, enquanto se distanciava veloz da estação e da garota que amava. Precisava fazer alguma coisa! Saiu correndo entre os vagões, precisava falar com o maquinista, precisava parar aquele trem.
Ela
Soltou na estação e caminhava calmamente pela plataforma até a saída... O que diria a ele? Será que ele a aceitaria de volta? Enquanto ultrapassava a roleta ouviu seu nome ecoar pela estação e olhou para trás...
Ele
Assim que conseguiu subornar o maquinista e o trem parou, desceu correndo, e seguiu correndo pelos trilhos, pela estação, corria o máximo que podia, um aperto em seu peito o atormentava, precisava alcança-la. Chegando a estação, avistou-a próxima a roleta de desembarque, não aguentando tanta emoção gritou seu nome.
Dois
Dois corpos em movimento. Dois corpos que correm em direção um ao outro. Dois corações que batem rápido em sincronia. Dois corações que bombeiam amor para cada célula de seus corpos. Dois corpos que se chocam. Braços que se prendem.
Ele a abraça bem forte girando-a no alto no meio das pessoas da estação. Ela o olha com o olhar mais doce do mundo e o beija.
Duas bocas que se beijam. Dois corpos que dançam e giram. Olhares que se cruzam ao final do beijo. Olhares que não precisam de palavras. O olhar dela dizia que ela nunca mais iria embora, que tinha voltado pra ficar. O olhar dele dizia que não importava para onde ela fosse, ele iria atrás. E assim eles se separam por alguns instantes, ele segura em sua mão e a leva pra casa.
Há muitos quilômetros dali... Alguns minutos antes... Numa casinha simples e aconchegante, um celular vibra sobre uma mesinha. Uma senhora de cabelos grisalhos pega o aparelho... Uma mensagem: “Mãe, não vou voltar... Não posso voltar incompleta. Te amo.”
A mulher sorri ao ler a mensagem e escreve sua resposta: “Não se preocupe querida, seja completamente feliz onde estiver... Te amo muito, minha filha.”
Por Ingrid Reis
Link da música: http://www.youtube.com/watch?v=4cuqcMss7hw
Continue lendo >>
