Save me
Dessa vez não estava ouvindo música, nem estava lavando nada. Na verdade são 22h29 e estava aqui fazendo alguns trabalhos da faculdade e pirando com a TPM. Tenso =X Então eu fui até o meu quarto, estava pensando em alguém que anda rondando muito os meus pensamentos ultimamente, e lembrei-me de algo que aconteceu comigo, a partir disso acabei imaginando uma situação e assim acabei por ficar novamente inspirada e criei uma história do nada, rsrs. É apenas mais um pequeno conto que surge em minha mente mirabolante.
Save me
Às vezes parece que a vida é um clichê, ou que o tempo muda de acordo com o seu humor, ou os acontecimentos de sua vida. Naquele final tarde fazia frio, muito frio e chovia e ventava muito também. Ouviam-se gritos saindo de dentro da casa. Era uma briga. Uma garota sai portão a fora no meio da chuva, seu rosto vermelho e inchado de choro. Ela correu rua abaixo, a chuva e as lágrimas tampavam sua visão. Seu coração doía tanto, sua alma parecia destroçada. A dor era tanta que ela tinha vontade de se machucar fisicamente, apenas para desviar o foco da dor. Pois, a dor em seu coração era insuportável.
Chegando ao final da rua, sentou-se na calçada. Ali sentada naquela esquina, ela tentava respirar e por a cabeça no lugar. Pegou o celular e apertou send no primeiro número que viu.
- Alô? – disse uma voz masculina do outro lado da linha. Droga! Ela pensou. Não era com ele que queria falar. E sem conseguir se conter um soluço escapou de seus lábios... – Lana? O que houve? Lana o que aconteceu? – a voz era tensa e preocupada.
Ela não conseguiu responder e desligou o aparelho. Olhou para o céu, a chuva caia forte sobre seu rosto, sua roupa colava no corpo de tão molhada. O telefone vibra em sua mão. Era ele... Ela respira fundo tentando se acalmar e atende.
- Oi Gui... – sua voz sai rouca e abafada por causa do choro que ainda tentava conter.
- Alana, o que houve? Por que me ligou? Estou no meio do plantão. – Ele pronuncia seu nome suavemente, e a trata com gentileza e preocupação.
- Eu... Eu... – a forma com que ele a trata só faz aumentar o nó em sua garganta, ela ofega sufocando um soluço. – Brigamos feio Gui... Eu saí de casa... – ao final da frase ela cai no choro novamente, lembrando-se da briga que teve com o pai.
- Meu Deus Lana! Mas... O que houve? Onde você está? To indo praí agora! – o nível de preocupação dele ia aumentando gradativamente, ela nem precisou dizer com quem tinha brigado, ele já sabia.
- Não Gui! Fique onde está! Eu vou ligar para as meninas e vou sair com elas... sei lá! – a ideia de tê-lo ali a apavorava, não ia conseguir se controlar e não queria incomodá-lo.
Antes que ele pudesse contestar ela desliga o celular e logo depois liga para as suas duas melhores amigas, marca com elas num bar não muito longe e se levanta. Faz sinal para o ônibus e embarca. Salta em frente ao bar e entra, pede uma bebida. Suas amigas chegam, elas conversam e a medida que conversam ela vai bebendo e chorando cada vez mais. Não era acostumada a beber, mas naquele momento era como se estivesse, não conseguia parar, precisava anestesiar sua dor. Suas amigas começam a ficar preocupadas, tentam consolá-la e fazê-la parar de beber, mas não conseguem. Seu celular toca novamente e ela atende sem olhar o número.
- Onde você está? – uma voz grossa, rouca e cheia de preocupação invade seus ouvidos – Não adianta reclamar, eu já saí do hospital. Quero saber onde você está. – dessa vez ele foi mais gentil. Ela tenta explicar onde está, mas não consegue, sua língua enrola, e ela já perdeu todo o pouco senso de direção que tinha.
Impaciente ele desliga o telefone e liga para uma de suas amigas, ela lhe indica o local e pra lá ele parte. Chegando lá, ele a encontra muito bêbada e chorando horrores, nunca a vira assim antes. Provavelmente a briga deve ter sido séria. Ele conversa com as meninas e eles entram num acordo. O melhor é que ele a leve para sua casa, afinal ela saiu de casa e se ela for para a casa das meninas naquele estado, seus pais não iriam gostar. Ele a abraça e a carrega para fora do bar e chama um taxi.
Ele tenta entrar em casa no maior silêncio possível, seus pais já estão dormindo. Ele a carrega para seu quarto. Ela dormira no taxi, ele a acomoda na cama e acaricia sua face. Ela abre os olhos, seus olhos são dois poços cheios de dor e tristeza, ele deita ao lado dela e a abraça. Ela chora...
Achando que ela já estava dormindo ele tenta se levantar, ela o olha e pede para que ele fique. E ele fica, a abraça forte e dorme ali abraçado junto com ela. O dia amanhece. Ela acorda, abre os olhos devagar e olha em volta. Ela sente o calor de um corpo e de braços a envolvendo. Aos poucos começa a lembrar de tudo que aconteceu no dia anterior. Se sente envergonhada e ao mesmo tempo aliviada por estar ali com ele. Fecha os olhos e tenta voltar a dormir, não quer sair dali. Não quer sair de perto dele.
Depois de algum tempo ele acorda, ainda sonolento a olha. Ela não se mexe. Ele a olha com compaixão, sabe que ela já sofreu muito e se sente impotente por não poder apagar esse sofrimento dos olhos dela. Com cuidado para não acordá-la, ele levanta e deposita um beijo em sua face antes de sair do quarto.
Só depois que ele sai do quarto ela volta a abrir os olhos, estava acordada, mas não queria olhar ou falar com ele ainda. Ela ouve vozes vindo de dentro da casa, a mãe dele está reclamando por que ele trouxe uma garota para dormir com ele. Ele explicou o que houve em meias palavras e isso aliviou a tensão. Mas o que ficou na cabeça dela foi a seguinte frase: “Eu pensei que vocês tinham terminado”. Pensativa do jeito que estava, não ouviu ele voltar para o quarto.
- Bom dia, como você está? – ele pergunta atencioso, cheio de preocupação, sentando-se na beirada da cama.
Ela olha pra ele e responde. – Com uma baita dor de cabeça...
Quem mandou beber tanto? – ele ri.
Ela respira fundo e o olha. – Desculpe por ontem... Eu não devia ter bebido, não devia ter te ligado...
Ele acaricia sua perna e sorri. – Não se preocupe. Não deve ter sido algo atoa... Senão você não teria feito isso. Você é responsável.
Ela não aguenta olhar para aquele sorriso. – Preciso ir. – diz levantando-se da cama.
Já? Não vai nem tomar café? – ele se espanta. – Pra onde você vai?
- Vou pra casa, vou concertar a burrada que fiz. Não devia ter saído daquele jeito... Mas não aguentei... – ela diz séria.
Ele a abraça.
Por favor, me solte... – ela diz com a voz fraca.
Por que? – ele diz sem entender.
Porque me machuca... – ela diz soltando-se dele e ficando de pé. – Eu ainda amo você... Penso em você todo dia... Eu sonho com você! Eu não devia ter te ligado e você não devia ter ido me socorrer... Isso machuca! Já não basta eu praticamente ter sido expulsa de casa? Nós estamos separados há o que? Dois meses? Os piores meses da minha vida... Eu me sinto perdida sem você... Só me sinto segura com você... É no seu abraço que eu me encontro... Mas machuca! Machuca por que você não é mais meu... Eu não te tenho mais... – à medida que vai falando tudo que estava preso dentro de si, seus olhos vão marejando de lágrimas, sua voz começa a falhar e sem conseguir mais olhá-lo, ela se vira para a porta. – Adeus, Guilherme.
Ele se levanta na mesma hora e segura em seu braço.
Você não vai embora, não depois de tudo que acabou de me dizer. – ele diz sério a olhando nos olhos. – Acha que foi fácil pra mim esses dois meses? Acha que eu não pensei em você? Em como você estava? Por que acha que larguei o meu trabalho ontem para ir em seu socorro? Vou te dizer o por que! – disse ele com a voz firme, a olhando nos olhos, parecendo furioso. - Eu amo você, sua boba... - ele diz sorrindo e acariciando sua face com a outra mão. Ela fica sem reação, a única coisa que consegue fazer e olhá-lo nos olhos. Então ele a beija. E tudo volta ao seu devido lugar novamente. Eles passam o dia juntos e depois ele a leva de volta para casa. Ao chegar em casa ela se desculpa por ter sumido, e mesmo sabendo que naquela briga não era ela a errada, ela pede perdão. Agora que tinha seu anjo de volta, nada mais importava, apenas ele. Aquele que iluminava a escuridão que às vezes tomava conta de sua vida. Aquele que com um abraço era capaz de silenciar o mundo a sua volta e lhe trazer paz.
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